A escritora Matilde Rosa Araújo, hoje falecida aos 89 anos, "era a medida padrão para a literatura infanto-juvenil", disse o escritor António Torrado. "Matilde Rosa Araújo soube fazer o que Sebastião da Gama, de quem foi amiga, disse em relação ao professor: 'ser professor é ser'; e Matilde foi professora com dedicação total e também como escritora. Ser escritora é ser."
Eu vou recordá-la com carinho..."O Palhaço Verde" ficará sempre no meu coração, com o seu riso de sol e o seu coração de oiro.
"O Senhor Palhaço, então, sentiu uma gota morna pela cara abaixo. Uma gota morna e transparente como cristal que lhe derretia o alvaiade e o pó de arroz.
Eu não sei se já lhes disse que também se chora de alegria. E foi isso.
(...)
E fez o jeito amigo de quem abraça.
E os meninos continuaram a gritar e a chamá-lo:
- Palhaço Verde!
- Palhaxo Vêdi!
- Palaço Vede!
Que alegria!
E a lágrima continuava suspena no rosto do Palhaço, delicada e brilhante como uma gota de luz.
O Senhor Forças, então, teve forças para dizer:
- Queridas crianças! Deixo-vos o Senhor Palhaço Verde aqui na pista que é o mesmo que vos dizer: - Deixo-lhes um Amigo.(pág.15)
(...)
Então o rapaz dos moinhos gritou: - Palhaço! Palhaço!
O rapaz dos moinhos falava, ele que estivera mudo, olhando só, até então. Igual a uma estátua.
E tirou da batata castanha uma cana de moinho da cor mais linda, como se tirasse uma flor de dentro do coração.
E estendeu ao Palhaço essa flor feita de papel e de ternura. Essa flor que todos os homens deviam saber semear.(...)
E o Palhaço com a mão direita segurou a flor linda que o rapaz dos moinhos lhe estendia.
E, então, das estrelas dos olhos caíram lágrimas sobre essa flor que nunca havia de secar, nunca mais." (pág.24)
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