Era uma vez um país onde as
crianças eram pouco tempo crianças e onde a escola não era para todas… Ao liceu
muito poucas viriam a chegar e à universidade muito menos ainda. “Não fazia
falta” às raparigas. E os rapazes onde “se faziam homens” era na tropa. Três
anos! Para aprenderem a ser homens e lutarem pela pátria!... Era um país “a
preto e branco”, longe de tudo, distante de si próprio…
Nesse
país havia uma pequena casa bem pequenita, onde residiam quatro pessoas que lutavam
pela vida, a mãe passava dias e dias em casa a lavar a roupa, fazer o comer que
o Manuel e a Maria tanto gostavam! O pai de família ia à luta, não pelo país,
mas sim pela família, ficava sem ver a família meses inteiros! Um dia, quando
Manuel brincava com Maria, sua irmã mais nova, perguntou à mãe que passava a
ferro umas ceroulas:
-Mãe,
porque é que eu não vou à escola?
-Ó
meu querido, tu não vais à escola porque …não temos dinheiro-inventou Zulmira,
sua mãe.
-Mãe,
porque é que o pai vai à guerra, se ele nunca gostou de lutar? -Perguntou
novamente Manuel.
-Ó
meu filho, realmente o pai não gosta de lutas, mas é para ele ficar forte,
vigoroso e o pai luta por nós, pelos vizinhos, por todo o país, vá queres que
eu te prepare um pãozinho com mortadela e um leite fresquinho da quinta da Clarissa,
tua tia?- inquiriu, desviando a conversa.
Mas,
quando Zulmira aquecia o leitinho, apareceram uns homens armados e as últimas
palavras que Manuel ouviu de sua mãe foram simplesmente as palavras que o
marcaram para toda a vida:
-Meu
filho, se um dia fores um majestoso homem tenta acabar com todo este sofrimento
destas vidas miseráveis, Salva o nosso país, salva – me a mim.
Foram
horas de sofrimento! Manuel só pensava nas palavras da mãe e quando atingiu 18
anos quis ser tropa mas não tropa como pai. Foi treinado para vencer.
Mas
numa bela madrugada de abril, uma estrela capitão, chamado Manuel, brilhou nas
trevas e tudo se transformou. Era agora um jardim de cravos! As crianças
gritavam, de alegria. Passados alguns anos, já sem ditadura, Manuel casou-se
com Matilde, uma bela mulher contabilista e até tiveram filhos e adivinhem o
padrinho foi Salgueiro Maia seu professor tropa. Ah, mas isso é outra história…
António Félix, clube de jornalismo
Sem comentários:
Enviar um comentário