Dona
Leopoldina é avó de duas lindas crianças, João de dez anos e Mariana de sete.
Ela adora os netos e, sempre que os vai visitar, conta-lhes histórias.
Fala-lhes
muitas vezes dos seus tempos de criança, em que vivia com muitas dificuldades,
num país onde as crianças eram pouco tempo crianças e onde a escola não era
para todas… Ao liceu poucas viriam a chegar e à universidade muito menos ainda.
“Não fazia falta” às raparigas. E os rapazes onde “se faziam homens” era na
tropa. Três anos! Para aprenderem a ser homens e lutarem pela pátria!... Era um
país “a preto e branco”, longe de tudo, distante de si próprio…
Foi
assim que, uma noite, os acompanhou ao quarto e lhes contou uma história desse
tempo.
-
Meus queridos netinhos, nem sabem a sorte que têm por terem nascido depois do
25 de abril de 74… Sabiam que eu não fui à escola?
-
A sério, avozinha? Então como é que sabes tantas coisas
interessantes?-perguntou João, com curiosidade.
-Oh,
aprendi com a vida!-suspirou a avó. Mas é muito triste não saber ler nem
escrever! É como viver na escuridão! Temos de acreditar no que nos dizem, sem
confirmar se é certo.
-
Mas, avó, continuo sem perceber porque é que não foste à escola!-inquiriu
Mariana.
-
Naquele tempo, só alguns podiam ir à escola, normalmente os filhos dos ricos e,
sabes, as raparigas raramente podiam estudar, ficavam em casa, como se não
tivessem os mesmos direitos! Mas uma bela madrugada de abril, uma estrela
capitão brilhou nas trevas e tudo se transformou. Era agora um jardim de cravos!
Foi por isso que o vosso pai foi estudar e nem adivinham o que aconteceu…
-Conta,
avó, conta!- pediram em coro.
-
Bem, nessa altura, as raparigas também já podiam estudar. Quando o vosso pai
andava no liceu conheceu uma linda rapariga, namoraram e, mais tarde, casaram.
Era a vossa mãe!
-
Que lindo, avó! Que lindo! Quer dizer que alguns casais se conheceram nas
escolas?
-Sim,
muitos, tal como os vossos pais e, graças a uma estrela capitão, vocês estão
hoje nas escolas a aprender a ler e a escrever. Já não viverão mais na
escuridão e nas trevas, como eu. Quando era jovem trabalhava muito em casa, até
passava a ferro para os vizinhos e o vosso avô, esse coitado, andava sempre nas
lutas, lutava pela família, pelos vizinhos e por todo o país. Tanto tempo sem
sequer vir a casa!
-
Oh, avó-disse a Mariana- mas o avô não gosta nada de confusões! Era muito
triste esse tempo! Mas, afinal, de que estrela falas tu?
-
Falo de um capitão, de nome Salgueiro Maia, que salvou o país e liderou a
revolução de abril, a revolução dos cravos, de que já ouviram falar à vossa
professora na escola.
-
Sim, já me lembro!- afirmou João todo contente por poder mostrar o que
aprendera na escola. É aquela revolução, que marca o fim da Ditadura, foi uma
revolução pacífica, em vez de tiros, distribuíram-se cravos!
-
Sim, João! Estou muito contente, por ver que aprendes bem. Graças a essa
revolução, todos têm, agora os mesmos direitos. Homens e mulheres são iguais.
Já não há discriminação. Essa estrela brilhou e trouxe-nos a luz, o poder de
sair das trevas e da ignorância. Agora há mais alunos e professores, há mais sabedoria.
-
Avó, graças a Salgueiro Maia, posso imaginar um futuro melhor, cheio de cores e
de esperança. Posso sonhar!
Dona
Leopoldina concordou e disse-lhes que já era muito tarde e que chegara a hora
de dormir. Meteu-os na cama, deu-lhes um beijinho de boa noite e prometeu que
lhes contaria mais coisas sobre os direitos que conquistámos no dia seguinte.
João
fechou os olhos, mas agradeceu em silêncio:
-
Obrigada, estrela capitão, por nos teres dado este direito maravilhoso, o
direito à educação!
Agora há tantas profissões que nem sei
contar! As mulheres já não são dispensadas! Homens e Mulheres tornaram-se
iguais, tendo os mesmos direitos! Assim, a minha irmã poderá ser o que quiser!
Obrigada estrela, por teres iluminado este país e a minha vida.
E
acreditem, o João tem toda a razão. Antes vivíamos num país de dor e desilusão,
mas agora somos livres e podemos vencer.
Alunos do Clube de Jornalismo
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