"Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos"

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06/03/16

Um Conto de abril!





Dona Leopoldina é avó de duas lindas crianças, João de dez anos e Mariana de sete. Ela adora os netos e, sempre que os vai visitar, conta-lhes histórias.
Fala-lhes muitas vezes dos seus tempos de criança, em que vivia com muitas dificuldades, num país onde as crianças eram pouco tempo crianças e onde a escola não era para todas… Ao liceu poucas viriam a chegar e à universidade muito menos ainda. “Não fazia falta” às raparigas. E os rapazes onde “se faziam homens” era na tropa. Três anos! Para aprenderem a ser homens e lutarem pela pátria!... Era um país “a preto e branco”, longe de tudo, distante de si próprio…
Foi assim que, uma noite, os acompanhou ao quarto e lhes contou uma história desse tempo.
- Meus queridos netinhos, nem sabem a sorte que têm por terem nascido depois do 25 de abril de 74… Sabiam que eu não fui à escola?
- A sério, avozinha? Então como é que sabes tantas coisas interessantes?-perguntou João, com curiosidade.
-Oh, aprendi com a vida!-suspirou a avó. Mas é muito triste não saber ler nem escrever! É como viver na escuridão! Temos de acreditar no que nos dizem, sem confirmar se é certo.
- Mas, avó, continuo sem perceber porque é que não foste à escola!-inquiriu Mariana.
- Naquele tempo, só alguns podiam ir à escola, normalmente os filhos dos ricos e, sabes, as raparigas raramente podiam estudar, ficavam em casa, como se não tivessem os mesmos direitos! Mas uma bela madrugada de abril, uma estrela capitão brilhou nas trevas e tudo se transformou. Era agora um jardim de cravos! Foi por isso que o vosso pai foi estudar e nem adivinham o que aconteceu…
-Conta, avó, conta!- pediram em coro.
- Bem, nessa altura, as raparigas também já podiam estudar. Quando o vosso pai andava no liceu conheceu uma linda rapariga, namoraram e, mais tarde, casaram. Era a vossa mãe!
- Que lindo, avó! Que lindo! Quer dizer que alguns casais se conheceram nas escolas?
-Sim, muitos, tal como os vossos pais e, graças a uma estrela capitão, vocês estão hoje nas escolas a aprender a ler e a escrever. Já não viverão mais na escuridão e nas trevas, como eu. Quando era jovem trabalhava muito em casa, até passava a ferro para os vizinhos e o vosso avô, esse coitado, andava sempre nas lutas, lutava pela família, pelos vizinhos e por todo o país. Tanto tempo sem sequer vir a casa!
- Oh, avó-disse a Mariana- mas o avô não gosta nada de confusões! Era muito triste esse tempo! Mas, afinal, de que estrela falas tu?
- Falo de um capitão, de nome Salgueiro Maia, que salvou o país e liderou a revolução de abril, a revolução dos cravos, de que já ouviram falar à vossa professora na escola.
- Sim, já me lembro!- afirmou João todo contente por poder mostrar o que aprendera na escola. É aquela revolução, que marca o fim da Ditadura, foi uma revolução pacífica, em vez de tiros, distribuíram-se cravos!
- Sim, João! Estou muito contente, por ver que aprendes bem. Graças a essa revolução, todos têm, agora os mesmos direitos. Homens e mulheres são iguais. Já não há discriminação. Essa estrela brilhou e trouxe-nos a luz, o poder de sair das trevas e da ignorância. Agora há mais alunos e professores, há mais sabedoria.
- Avó, graças a Salgueiro Maia, posso imaginar um futuro melhor, cheio de cores e de esperança. Posso sonhar!
Dona Leopoldina concordou e disse-lhes que já era muito tarde e que chegara a hora de dormir. Meteu-os na cama, deu-lhes um beijinho de boa noite e prometeu que lhes contaria mais coisas sobre os direitos que conquistámos no dia seguinte.
João fechou os olhos, mas agradeceu em silêncio:
- Obrigada, estrela capitão, por nos teres dado este direito maravilhoso, o direito à educação!
Agora há tantas profissões que nem sei contar! As mulheres já não são dispensadas! Homens e Mulheres tornaram-se iguais, tendo os mesmos direitos! Assim, a minha irmã poderá ser o que quiser! Obrigada estrela, por teres iluminado este país e a minha vida.
E acreditem, o João tem toda a razão. Antes vivíamos num país de dor e desilusão, mas agora somos livres e podemos vencer.


Alunos do Clube de Jornalismo




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