Quando Eu For Pequeno
Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida me entregarão ao sossego do sono.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"
11 comentários:
dia da mae vou dar uma prenda muito especial a minha mae
Anabela
Fazes bem, minha linda, pois a MÂE é o maior tesouro do mundo.
Estou ansiosa, por ver as prendinhas das minhas filhotas.
Beijinhos e passa um bom fim-de-semana.
Desconhecia este poema... É lindíssimo! Fiquei emocionada porque também eu senti vontade de ser, de novo, pequena para ter, ainda, comigo a minha saudosa mãe.
Isabel, gosto sempre de passar por cá, mas hoje sorri sozinha diante do meu pc, quando olhei para o título deste post.
A minha mais pequena, do alto dos seus 4 vividos anos, diz vezes sem conta, que não quer crescer, que apenas quer fazer 5 e depois quer ficar sempre pequenina... será que ela sabe algo que nós adultos não sabemos?
:o) Beijinhos
Agradeço muito à Maria João e à Cristina, que se estão a tornar amigas, muito especiais.
Maria João, eu tenho sorte de ainda ter comigo a minha mãe...desconheço se tem filhos, se os tem cabe-lhes a vez de a mimar. Quero enviar-lhe mil beijinhos de conforto, pela saudade da mãe.
Cristina, desconfio que sim, a filhota sabe que ser pequeno é a melhor altura da vida, o momento da inocência. Nós temos a sorte de convivermos sempre com esse lado da inocência, por sermos mães e professoras.
A minha Sofia tem 4 anos e a Sara 9.
Beijinhos e tenham um bom dia "da Mãe".
Isabel
Muito obrigado pelo poema. Gosto mesmo muito dele.
Bom dia da Mãe, com as suas filhas e a sua Mãe. ( É muito bom ser-se filha e mãe ao mesmo tempo. Eu, que já tenho a minha Mãe no céu, desde o último Julho, sinto-me orfã e detesto sentir-me assim. Ainda bem que tenho a minha filha!!!)
Luz
Querida Luz, trata-me por tu...Também te desejo um feliz dia com a tua filhota.
A minha mãe, bem só por telefone, pois como sabes está em Bragança, mas sempre que posso fujo até lá, para ter colo e miminhos.
Nestas alturas, pensamos naqueles que já perdemos, mas Luz, sei que também acreditas que lá no céu, a tua mãe olha por ti.
Beijos
Isabel
Claro que acredito! Mas de qualquer forma estes dias são sempre passados com muita saudade!
Bom dia da mãe!
Luz
Boa tarde, Isabel
Obrigada pelas suas palavras ternurentas.
Sim, tenho um filhote :-) Aliás, "a carta de filho para mãe" (http://arrumadoresdepalavras.blogspot.com/2009/04/carta-de-um-filho-um-texto-real.html) que está no Arrumadores foi escrita e oferecida por ele há um ano, precisamente no Dia da Mãe.
O Amor dele compensa outras perdas afectivas que tive mas jamais as substituirá.
Um beijo e Feliz Dia da Mãe!
Obrigada por este lindo poema.
A minha mãe vai fazer 96 anos. É uma emoção poder festejar com ela amanhã (domingo) o Dia da Mãe.
Bem, que sortuda que tu és! Deve haver poucas pessoas que tenham a sorte de ter uma mãe com 96 anos! Que fofura!
Dá-lhe mil beijinhos.
Enviar um comentário